quinta-feira, novembro 15, 2007

Lacunas

As vezes falta...
Coragem para mudar radicalmente o rumo das coisas
Vontade para continuar naquilo que pode me trazer bons frutos
Explicações sobre o que era, o que foi ou o que na verdade nunca existiu
Foco para não me dispersar pensando em pequenas coisas
Humildade para reconhecer que não estou sempre certa
Amor, muito amor àqueles que são mais do que consangüíneos.
Tempo para estudar mais, trabalhar melhor e dormir oito horas
Organização para gerir melhor o pouco tempo que tenho
Gargalhar até doer a barriga
Carinho e atenção para os amigos
Equilíbrio para administrar melhor meu dinheiro
Paciência com os mais velhos, os atendentes em geral e os cachorros do vizinho
Paixão para voltar a sonhar acordada e andar nas nuvens
Disposição para continuar a árdua luta contra a balança
Pipoca, pão de queijo e chocolate na despensa
Ameixa, iogurte natural e soja na mesma despensa
Auto-estima para acreditar que sei fazer aquilo que verdadeiramente gosto
Atitude para não deixar passar oportunidades profissionais
Liberdade, libertinagem, sacanagem
Irresponsabilidade para jogar tudo pro alto e passar o fim de semana em festas
Maturidade para esperar tudo acontecer no seu tempo
Palavras amenas, gestos sutis, delicadeza no agir
Falar menos para que meu cérebro tenha tempo de pensar no teor do discurso
Parar, ouvir, refletir e agradecer pelo que foi dito
Acreditar que posso ser menos egoísta sem me prejudicar por isso
Ser menos tensa, menos comedida e mais feliz
Despreocupar-se de tudo isso
As vezes falta...viver.

terça-feira, novembro 13, 2007

Forrobodó for all

Domingo a noite é sempre a mesma coisa: quando Pedro Bial e Glória Maria dizem sorridentes “Uma ótima semana para você” a vontade que eu tenho é mandar ambos para a....Eles não tem culpa. Afinal, a semana pode ser ótima realmente. O problema é que ela começa na segunda-feira. E por causa disso os domingos a noite são tediosos.
Eu sou vitima desse pré-mau humor de começo de semana. E de uns tempos para cá, isso me deixou inquieta. Eu queria mudar. Estava disposta a fazer algo para tornar as últimas horas do final de semana menos angustiantes. Mas, o que fazer??

- Vamos ao forró domingo à noite?

O convite acima partiu de uma amiga no final de uma sexta-feira. Forró?? Eu?? A primeira resposta foi negativa. Não sei dançar, não gosto da música, não faz parte das minhas atividades culturais. Enfim, não é para mim. Ela insistiu e, como sou muito curiosa, decidi ir.
O contato inicial com o desconhecido provoca a mesma sensação em qualquer época da vida. Chegando lá, um misto de ansiedade e resistência predominou. Confesso que, no inicio, não gostei do que vi. A maioria das pessoas não tinha mais que dezessete anos. Além disso, a minha roupa contrastava com a das outras meninas. Todas estavam com sandálias sem salto e a maioria de saia rodada. Calça jeans e salto alto, só eu.
O lugar é simpático. Um grande salão iluminado por poucas luzes amareladas que deixam o ambiente na penumbra. Senti falta das mesas, do garçom servindo. Mania de quem freqüenta bares da zona sul. Ali o objetivo é dançar. Aliás, quando cheguei, muitos casais já dançavam ao som do forró tocado por um quarteto – guitarra, zabumba, triângulo e sanfona.
Consegui uma cadeira, sentei e então pude observar melhor quem dançava. Confesso que me assustei. O contato físico intenso, as pernas entrelaçadas, os corpos em movimentos sensuais. Para quem fez balé clássico na infância e ainda lembra da professora exigente mandando encolher o abdômen e manter o bumbum e a coluna alinhados aquela forma de dançar é chocante.
O som do forró nos primeiros minutos, porém, é agradável. Aliás, a música quebrou o gelo inicial. Não demorou para meus pés e tronco começarem a se mexer querendo acompanhar o ritmo. Decidi dançar. Avistei um rapaz que usava uma camiseta com o chamado: Vem Dançar Comigo. Era um garoto, de apenas 17 anos, instrutor de forró há quase um ano e meio. Ele foi paciente e me mostrou que, no forró universitário, tudo se resume ao compasso um-dois, um-dois e a mulher se deixa conduzir pelo homem. Dancei alguns minutos. Não rodopiei, não tive a performance dos dançarinos mais experientes. Para acompanhar quem estava no salão preciso ir para uma academia e fazer muitas aulas.
Entre um forró e outro rola muita paquera. Também, o cenário propicia o beijo na boca. Apesar disso, são poucos os casais que se formam enquanto a musica toca. É estranho, mas a música parece colocar quem dança num estado de transe. Não se conversa, não se olha no olho do parceiro. A expressão é de concentração. É como se o corpo estivesse totalmente entregue ao ritmo.
Depois de duas horas no lugar confesso que já estava começando a ficar cansada. O som alto de um ritmo que não está entre os meus favoritos, a dança que embora seja divertida não me agrada por completo e o espaço cada vez mais reduzido – as pessoas mais velhas, na faixa dos 20 anos, começaram chegar – acenderam o alerta: hora de ir para casa. Antes, porém, tive que dizer não a um garoto super simpático que me chamou para dançar.
Definitivamente não posso adotar o forró como elixir para tornar minha segunda-feira mais bem humorada. No entanto, não posso negar que saí de lá alegre. Afinal é um ambiente de muita harmonia e respeito. As pessoas se reúnem para fazer o que gostam. E fazem com muito prazer.
Certa vez li que não há um consenso entre os pesquisadores sobre a origem da palavra forró. Alguns acreditam que ela vem do termo africano “forrobodó”, que significa festa, bagunça. Outros atribuem à origem a expressão “for all”, do inglês. Não sei quem está certo. Mas para mim, as duas origens se complementam. O forró é uma festa para todos. Sem exceções.