segunda-feira, junho 26, 2006

Agradecimentos

À minha preguiça, que me fez adiar a faxina no meu quarto para mais tarde e me incentivou a permanecer sentada lendo o jornal.
Ao Negão, meu cachorro. Graças à sua mijada fenomenal no primeiro caderno, meus olhos tiveram contato direto com o caderno de cultura.
À Silvia, grande amiga, por seu telefonema que me incentivou sair de casa para ver aquilo que parecia previsível.
À seleção da Argentina, que manteve todos os olhos agourentos (inclusive os meus) voltados para a tela da TV enquanto jogava, possibilitando um atraso incomum no início do evento.
Sem o incentivo de vocês eu não teria participado da apresentação da Orquestra Infantil de Tambores de Aço (“steel drums”) da St. Xavier’s Private School, de Trinidad e Tobago, um dos melhores momentos vividos por mim esse ano e, lamentavelmente, compartilhando com não mais que quarenta pessoas. Um evento gratuito, divulgado às pressas, mas que eu não me perdoaria se tivesse perdido.
E é pelo enriquecimento do meu repertório cultural, que até então ignorava a existência dos tambores de aço;
pela alegria em saber que Calipso é um ritmo de Trinidad e nem nos acordes mais desafinados lembra aquilo que se chama pelo mesmo nome aqui no Brasil;
pela possibilidade de ver de perto que não é preciso esperar o Estado agir para se ter um projeto cultural rico;
e, sobretudo, por permitir que meus olhos admirassem a beleza daquelas pessoinhas, alegres profissionais na arte de um som que encheu minha alma da melhor energia, que eu lhes dedico os meus mais sinceros agradecimentos.

domingo, junho 18, 2006

Fim de caso

Eu não sei como sobrevivi a isso durante tanto tempo. Foram seiscentos e quarenta e oito dias sendo implacávelmente controlada por você. Dominou meus pensamentos, minhas atitudes. Tudo o que eu mais gostava de fazer, só era possível com seu consentimento. Uma relação sufocante, que foi me levando à loucura e hoje, definitivamente, eu resolvi dar um basta.
Tudo começou sem maiores pretensões. Num momento de crise, foi meu salva-vidas. Recorri a você outras vezes e as coisas foram tomando proporções maiores. Quando eu vi, já estava inteiramente dependente de você.
Fui dominada. Você tolhia as minhas vontades, submetia meus desejos às suas condições. Eu perdi a autonomia até mesmo para comprar um souvenir na banca da esquina. Cansei das suas cenas. Você me expôs ao ridículo quando, naquela loja na semana do natal, gritou para a atendente que eu não poderia jamais, em hipótese alguma, levar aquela blusa. Ela, constrangida diante da minha total submissão, recolheu a mercadoria. E eu, triste pelo que acabara de acontecer, voltei para casa de onde não saí mais para as compras.
Você passou do limite. E eu atingi o máximo da minha paciência. Por isso, analisei friamente a situação, reestruturei toda a minha vida para poder te dizer: Chega! Vou respirar mais suave, caminhar mais leve, vou, enfim, voltar a viver. Você pode não acreditar, mas toda aquela dependência acabou. Por mais que você insista, não voltará a fazer parte da minha vida. Porque, a partir de hoje, eu sou uma outra pessoa. Livre, independente, feliz e que não precisa mais de você, cheque especial.

sábado, junho 17, 2006

O fim

Aos 22 anos é meio difícil pensar em como se quer morrer. Ainda mais para quem acredita que pode ser o último exemplar vivo de ser humano a receber os próximos habitantes do planeta.
Mas quando acontece a morte repentina de alguém conhecido da mídia, refletir sobre isso acaba sendo inevitável. Pelo menos para mim. Afinal, embora relute em aceitar, um dia eu também vou morrer.
Quero partir - para o céu, inferno, plano superior ou simplesmente pra debaixo da terra - sem dor. Morrer dormindo não seria de todo ruim. Acordaria num ambiente diverso daquele já conhecido e não tardaria a perceber que não estava mais viva. Embora pareça egoísta, pois para os que ficam a perda de alguém amado sem prévio aviso é chocante, ainda acredito que acompanhar o lento declínio da vida seja bem mais doloroso.
Os poucos bens materiais que tenho deverão ser doados, assim como meus órgãos saudáveis. Meus familiares já sabem disso e sempre que morte vira assunto durante nossos encontros ratifico essa minha escolha. Os amigos e amores, quero que guardem todos os momentos relevantes que passamos - bons ou ruins, não importa. E ao invés de tristeza, um brinde. Se é inevitável o fim desta vida, despedir-se dela como quem se despede do ano velho não é incoerente.
Seria lindo se tudo acontecesse assim.
Mas para mim morrer é assustador. Tenho sonhos, projetos, dúvidas que ainda pretendo esclarecer. Meu maior medo é que não dê tempo. Não dê tempo de realizar meus desejos, de vencer um grande desafio, de me declarar para todos que amo. E não só isso. Quanto mais se vive, mais se descobre que há muitas outras coisas para fazer. Por isso, em minha lápide, quero que escrevam "Não deu tempo", porque para mim já não resta dúvida de que não vai dar.

quinta-feira, junho 15, 2006

Primeiro

É a terceira vez que insisto em criar um blog. Essas coisas de internet tem um quê de brochante e logo me fazem perder o tesão por elas. Foi assim com ICQ, mirk e recentemente Orkut (talvez eu encerre em breve minha conta). Não sei quanto tempo essa insistência em me inserir no universo digital vai perdurar. Por enquanto, cá estou novamente criando meu diário virtual.
Não tenham os poucos e talvez inexistentes leitores a ilusão de encontrar aqui textos inteligentes e críticos, poesias com versos alexandrinos ou de vanguarda, contos inebriantes ou qualquer outra coisa verdadeiramente interessante. O espaço servirá apenas para eu tentar colocar em palavras, numa sequência nem sempre lógica, todos aqueles ruídos perturbadores que minha cabeça produz.
Sim, talvez alguma droga farmacológica silenciasse esses barulhos imaginários. Mas enquanto eu preferir brócolis à big mac, nada de remédios. Palavras ainda são o melhor placebo para minha quase loucura.