sábado, junho 17, 2006

O fim

Aos 22 anos é meio difícil pensar em como se quer morrer. Ainda mais para quem acredita que pode ser o último exemplar vivo de ser humano a receber os próximos habitantes do planeta.
Mas quando acontece a morte repentina de alguém conhecido da mídia, refletir sobre isso acaba sendo inevitável. Pelo menos para mim. Afinal, embora relute em aceitar, um dia eu também vou morrer.
Quero partir - para o céu, inferno, plano superior ou simplesmente pra debaixo da terra - sem dor. Morrer dormindo não seria de todo ruim. Acordaria num ambiente diverso daquele já conhecido e não tardaria a perceber que não estava mais viva. Embora pareça egoísta, pois para os que ficam a perda de alguém amado sem prévio aviso é chocante, ainda acredito que acompanhar o lento declínio da vida seja bem mais doloroso.
Os poucos bens materiais que tenho deverão ser doados, assim como meus órgãos saudáveis. Meus familiares já sabem disso e sempre que morte vira assunto durante nossos encontros ratifico essa minha escolha. Os amigos e amores, quero que guardem todos os momentos relevantes que passamos - bons ou ruins, não importa. E ao invés de tristeza, um brinde. Se é inevitável o fim desta vida, despedir-se dela como quem se despede do ano velho não é incoerente.
Seria lindo se tudo acontecesse assim.
Mas para mim morrer é assustador. Tenho sonhos, projetos, dúvidas que ainda pretendo esclarecer. Meu maior medo é que não dê tempo. Não dê tempo de realizar meus desejos, de vencer um grande desafio, de me declarar para todos que amo. E não só isso. Quanto mais se vive, mais se descobre que há muitas outras coisas para fazer. Por isso, em minha lápide, quero que escrevam "Não deu tempo", porque para mim já não resta dúvida de que não vai dar.

4 comentários:

Anônimo disse...

Não se preocupe. Se a gente morrer bem velhinha o tempo sobra. Hora extra na Terra! rsrs
Mas falando sério... por isso é tão gratificante trabalhar pelo bem comum. Você pode até partir, mas as coisas boas que vc fez ficam.
Mas que papo brabo!
rsrs

Anônimo disse...

Não é pra se preocupar com o dia da morte Fer, mas é maduro ter consciência que ela virá.
Não esquente a cabeça se não der tempo, afinal não é pra dar mesmo. Somos apenas peças de uma grande máquina chamada natureza, somos substituiveis e vuneráveis àquilo que o dono da máquina quiser fazer conosco.

beijos

GABRIEL RUIZ disse...

Porra Fer muito legal. O desfecho dos seus textos são sempre mto bons.
Como vou acabar com a sua vidinha amanhã, eu mesmo dou o recado. rs

Mas sério, qndo a gente é criança o tempo parece bem maior, o dia é longo, mesmo qndo se vai pra escola. Hoje nõa dá tempo pra fazer nada, essa impressão é no minimo angustiante, por isso que a gente precisa aproveitar Fer. Vamos conversar sobre isso! Aliás, quando é que sairemos para tomar uma e trocar idéias?

Anônimo disse...

Sou covarde demais qdo o assunto é morte. Não com a minha morte, mas das pessoas próximas, por isso nem vou comentar muito sobre o tema, mas dizer que vc tem grande estilo pra escrever, sou fã de seus textos sempre e não canso de repetir hehehe. Destaco os desfechos, esse em especial, confortante, pois trata-se de algo que sempre esquecemos e deveríamos sempre lembrar nos momentos de ansiedade existencial. Mais uma vez, me emocionei com vc amiga!