A Carol, uma das melhores pessoas que eu já tive o prazer de conhecer em toda a minha existência, passou quase um mês falando que estava escrevendo um texto para mim. Eu esperava uma carta falando sobre nossa amizade, sobre as minhas crises existenciais e momentos legais - e nem tão legais assim - que vivemos juntas até aqui. Claro que, como sempre, a danada de me surpreendeu com um texto que exprime toda a delicadeza e sensibilidade daquela alma. Chorei sorrindo quando terminei de ler. Foi a melhor homenagem que eu já recebi.
Sim, ela é louca. Já falei para ela que ainda está em tempo dela desistir dessa amizade porque minha insanidade pode acabar contaminando todo aquele equilibrio. Mas ela insiste....que bom :)
Você já sabe, mas sempre me obriga a repetir: Eu amo você, minha amiga!
E mais uma vez obrigada por tudo.
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O nome da flor
O inverno seco e gelado castigava o verde da paisagem. Grama seca, árvores com galhos expostos, vegetação sem flores, uma bela paisagem apesar da fria aridez. Crec, crec. Passarinhos andam pelas folhinhas secas no chão. Desce e sobe, desce e sobe, um lago coberto pela bruma. As orquídeas da beira dormem profundamente, no meio do lago, um galho verde acinzentado, meio torto. Ah não, não é um simples galho, é um galho verde que sustenta o botão de uma flor. O botão se mexe um pouquinho, deve ser o vento.
- Que coisa esquisita! – diz um pato imigrante.
- Qué, qué, quééé – concordam os outros.
As orquídeas reclamam, ainda sonâmbulas:
- Esses patos não conseguem voar em silêncio!
- Não têm a mínima classe – comenta a orquídea mais velha abrindo só um olho. Apenas um olho foi suficiente para que a velha roxa enxergasse o galhinho no meio do lago – Que coisa estranha...
Os dias passavam silenciosos e o próprio vento invernal parecia expulsar o inverno: Vai, vai embooooora que a primavera está chegando... As flores acordavam aos poucos, junto com as árvores espreguiçavam-se, o fim do inverno é cheio de bocejos. A primavera chegara com suas tintas, carrega no verde da grama e das folhas, pincela as asas das borboletas e ao se misturar com a última chuva fria faz aparecer um lindo arco-íris e quando a última nuvem acabou de se jogar, imediatamente, o sol fez questão de secar as folhinhas para a primavera se instalar confortavelmente. A música estava no ar, a alegria dos pássaros, calmaria repleta de cantos. Só um detalhe destoava da paisagem: o botãozinho no meio do lago. A margarida comentou com o sapo:
- Olha só Joe, somente aquela plantinha ali não acordou.
- Joe, joe.
- Não, não pula nela não, parece muito sensível.
- Joe!
- Sapo teimoso, Joe! Volta aqui! Ai, como eu queria ter pernas!
A coruja que dormia acordou com a margarida gritando, olhou pela janela da árvore e viu Joe correndo feito louco em direção ao botãozinho adormecido. Voou em direção ao sapo que já estava a uma Vitória-Régia do alvo.
- Joe! Nãaaaaaaaaao!- gritou a Margarida.
A coruja foi certeira. Todos ficaram apreensivos: “É agora que o sapo vira comida!”. No entanto, para a sorte de Joe, dona Coruja é vegetariana e apenas soltou o sapo bem longe do botãozinho.
- Deveria ter deixado o Joe pular nela, assim ela acordaria, ou ele, sei lá! Estou tão curiosa pra saber o que é aquilo... – segredou uma das orquídeas.
Mesmo com a interferência da coruja, o botãozinho acordou. Silêncio no lago.
- JOE!
- Cala a boa seu sapo chato! – ralhou a Margarida.
A orquídea roxa inchou o peito para impor respeito e mostrar quem liderava as flores. O botãozinho tinha uma abertura muito pequeninha, era possível enxergar um miolo branco apenas.
- Eu sou a orquídea roxa! A mais velha das flores! Quem é você?
Olho arregalado.
- Buaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaa!
- Ai meu Deus, ainda é um bebê!
- Incomum, muito incomum. É primavera! Deveria ser uma planta adulta já. Pelo miolo, imagino que seja uma flor.
- Buaaaaaaaaaaaaaaaaaaaa!
Com o tempo, o botão crescia, no entanto, nada de flor. A primavera já estava derretendo de calor, as cores ficavam, aos poucos, mais quentes. Tanto calor fez a primavera ir embora, uma choradeira só! As orquídeas choravam abraçadas, a Margarida murmurava lamentos, a coruja desdenhava – Que exagero! Ela volta todo ano – o Joe só fazia – JOE! – E o botãozinho já começava falar, ao contrário de todos sentia-se bem melhor com a chegada do verão.
- Mas é claro, ela vive dentro da água! – dizia a Margarida.
De fato, viver dentro da água era muito bom. Mas não era a única boa sensação, não sabia o que era verão, só que o botãozinho estava radiante:
- Que clima mais agradável! Que luz dotosa!
- Não é dotosa criatura! É g-o-s-t-o-s-a! – dizia uma das orquídeas metidas.
- E essa luz, criatura, é o Sol! Sol!– completava a orquídea roxa enquanto todos riam em volta.
- Eu não sou uma criatura! Sou uma flor, posso sentir meu perfume!
- Perfume??? – questionou a Rosa que quase não falava – Perfume tenho eu cherie!
- Fiquem todas quietas! – ordenou a orquídea rainha – Humanos chegando!
- Huma o quê? – perguntou botãozinho
- Xxxxxxxiiiiiiiiiiiiiu!
Dois troncos sem copas se aproximavam do lago. Espera aí, não são troncos de árvore, são menores, de cor esquisita. Na parte inferior um deles usa algo azul, na superior algo branco. O outro, com coisas na cabeça, como raízes, usava florzinhas pelo corpo, todas simétricas, iguaizinhas! Ufa! Desviaram do lago, estão indo embora.
- O que são?
- São seres humanos botãozinho – respondeu a Margarida.
- E o que é ser humano?
- Eu sei lá, só sei que esses dois sempre aparecem por aqui. Às vezes sentam na beira do lago e ficam dizendo que somos lindas, perfumadas... Admiram a lua, as borboletas... Outro dia, a menina se assustou com o Joe...
- JOE!
- Menina? O que é menina?
- Menina, botãozinho, é aquele ser humano que tem cabelo e usa aquela roupas floridas. O outro é menino. Se bem que algumas andorinhas andaram cantando que existem diversos seres humanos, meninos de cabelos compridos, meninas de cabelos curtos...
E a Margarida contou tudo sobre os seres humanos para o botãozinho, a noite inteira! Botãozinho ficou fascinada. Dormiu e sonhou que era um deles, que podia andar por aí. O sonho foi interrompido por altas gargalhadas das orquídeas que apontavam e riam para botãozinho.
- O que foi? Por que vocês estão rindo?
- Reflete na água criatura!
- Aahhhh! O que é isso na minha cabeça?
- UMA pétala! Hauahauahauahauaha! Você só tem UMA pétala!
- JOE!
Antes que botãozinho começasse a chorar a Margarida tratou de distraí-la.
- Sabe botãozinho, já cansei de te chamar de botãozinho, precisamos arranjar um nome pra você.
- Mas ninguém tem nome aqui, só o Joe.
- JOE!
- Ah, o Joe não conta! As orquídeas receberam essa denominação das andorinhas e não querem saber de outros nomes, dizem que isso é coisa de humanos! Já eeeeu, sou a Margarida. E sabe quem me deu esse nome maravilhoso?
- Não.
- A menina! Ela chegou perto de mim, fiquei morrendo de medo, até perdi umas pétalas!
- Ela chegou perto e?
- Gritou: Olha só! Uma Margarida!!!!! Que liiiinda!
- Ah é???? Que legal! Será que ela não me dá um nome também?
- Huuuum... Não sei... Talvez você tenha que ser linda pra receber um nome, assim, que nem eu! – fez pose a Margarida.
Botãozinho ficou pensando, pensando. Ser linda? O que é ser linda? Ser igual às orquídeas? Ou igual à Margarida? Resolveu levar a dúvida para a orquídea roxa.
- Aaahh, sinto dizer criaturinha do lago, que você nunca será linda. Olha só essa pétala pálida na sua cabeça! – Apesar de não ter graça nenhuma, todas as outras orquídeas riam enquanto a Rosa olhava com desdém para botãozinho. A pobrezinha não se controlou e começou a chorar. Depois de horas e horas chorando, botãozinho se olhou na água novamente e que susto levou!
- Outra pétala!!!???
Todos se aproximaram para espiar.
- Outra pétala! Eu tenho outra pétala!
- JOE!
- Você está parecendo... – começou a Margarida antes de cair no riso – um coelho!!!
Parecia que uma bomba de gargalhadas tinha explodido. Botãozinho lembrava o que era um coelho, de vez em quando eles apareciam, todos saltitantes. Isso significa que ser parecido com coelho também não é ser linda. Mais uma noite de choro! Seguida de vários dias horríveis nos quais as orquídeas humilhavam botãozinho. E a Margarida, que nem era tão má, ao invés de ajudar, não se continha e se divertia rindo da situação trágica de botãozinho que, aliás, ainda não tinha nome. O outono passou rápido e deixou todo mundo sequinho, amarelinho, alaranjadinho. Hora de dormir o dia todo até a primavera retornar.
- Ai! Eu não vejo a hora de rever a primavera!
- Ela sempre foi volta tão renovada!
- Tão linda!!!!
- Aaaahhhh- Suspiravam as flores em coro.
Botãozinho não se animou com a idéia. Na primavera passada nada de bom aconteceu e era bem provável que nada aconteceria novamente. Tédio. Contudo, ela pensou: “Se a primavera é linda e traz sempre bons ares, talvez ela me ajude!!!!”. Botãozinho adormeceu com o coração cheio de esperança.
Os dias passavam silenciosos e o próprio vento invernal parecia expulsar o inverno: Vai, vai embooooora que a primavera está chegando... As flores acordavam aos poucos, junto com as árvores espreguiçavam-se, o fim do inverno é cheio de bocejos. A primavera chegara com suas tintas, carrega no verde da grama e das folhas, pincela as asas das borboletas e ao se misturar com a última chuva fria faz aparecer um lindo arco-íris e quando a última nuvem acabou de se jogar, imediatamente, o sol fez questão de secar as folhinhas para a primavera se instalar confortavelmente. A música estava no ar, a alegria dos pássaros, calmaria repleta de cantos. Só um detalhe destoava da paisagem. A Margarida comenta com o sapo:
- Joe! Joe! Acorda seu preguiçoso! Você não é planta! Por que dorme tanto também?
- JOE!
- Ah! Esquece! Olha lá, olha lá!
- JOE!
No meio do lago, uma linda flor! Tantas cores misturadas que só era possível aos olhos de todos enxergá-la como branca. Com a luz do sol, uma aura com as sete cores do arco-íris se formava ao seu redor.
- O que é isso????
- Ahhhhhhh... – surpreenderam-se as orquídeas.
A resplandecente criatura abriu os olhos, bocejou profundamente e disse:
- Bom dia Margarida! Bom dia Joe! Bom dia coruja! Bom dia Rosa! – olhou cabisbaixa para as orquídeas – Bom dia...
- BOTÃOZINHO? – gritou a Margarida.
- Oras, mas é claro Margarida, quem poderia... – botãozinho viu seu reflexo na água- ser?
O susto foi tanto que a botãozinho, quer dizer, a flor, desmaiou. Nesse momento, a orquídea roxa alertou:
- Fiquem quietos! Tem gente se aproximando de novo!- A orquídea ainda desejou, em pensamento: “Espero que eles arranquem essa flor horrível do meio do lago”.
Os dois se aproximaram e não tardou que percebessem a nova e ilustre presença na água.
- Olha só que flor bonita! Nunca vi uma igual! – observou a menina.
- É diferente mesmo! É difícil até saber qual a cor exata dela!
- Qual será o nome dessa espécie?
- Não sei... E se for uma espécie nova?
- Se for uma espécie nova quem descobre tem o direito de batizá-la, igual aos astrônomos que dão nome aos planetas, às estrelas. Por que você não escolhe?
- Quem viu primeiro foi você...
- Ah... Mas eu não tenho nenhuma idéia agora...
- Eu sei um nome bem bonito!
- Qual???!!
- O seu nome!
- O meu????
- É, o seu!
A flor do meio do lago ouviu o nome ao despertar e logo chamou a Margarida para contar.
- Vai! Fala logo! Que nome eles te deram?
- Fernanda.
3 comentários:
Aaaai que lindo!!
A Carol é foda, eu falo isso meu! hehe
Carol: parabéns pelo texto!
Fer: você também é foda, o texto de baixo é comovente!
Ahhh eu sou muito sortuda por estar rodeada de mulheres maravilhosas...
P.S.: eu sei que seu nome é Fernanda, mas posso te chamar de botãozinho às vezes? gostei! rs
Aaaaiii Fer, somos um monte de manteiga derretida sabia? Fiquei emocionada com sua reação (A louca hehe), como eu sempre digo, não precisa agradecer pq fiz de coração mesmo! Adorei o comentário da Júlia tb, outra flor nas nossas vidas né? Beijossssss
Qualquer palavra aqui será menos que pouco, depois de ler o conto.
PS: Não é qualquer um que manja como a Carol. E tem mais: não é qquer um que ganha, assim de presente, um presente que não se compra e não se vende em lugar algum. Maravilhoso.
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